

Vida da minha Vida”, é um primor melódico de mestre Sereno e do poeta sambista Moacyr Luz, dá nome ao novo CD e já nos arrebata no primeiro verso. A lua que encandeou nos encandeia logo. Encandear é deslumbrar, estontear com tamanho brilho que a vista se nos turva e nos confunde. Difícil pensar nos caminhos a seguir diante de tanta vida posta em canção. Só mesmo ela, vida, pode responder: “se for pra ser vivida, diga pra onde vou!”.Em várias faixas inéditas, Zeca consegue se superar como intérprete e, madura, a voz se mostra mais aveludada, como em “Hoje eu sei que te amo”, do bom baiano Nelson Rufno, quase 50 anos de samba, que um dia lhe deu “Verdade” para gravar. E “Poxa”, como foi bacana ouvir de novo esse sucesso dos anos 70, de Gilson de Souza, paulista de Marília, autor de outro grande sucesso, “Orgulho de um sambista”, e que agora se dedica à revitalização de botecos como espaço para sambas na noite paulistana. Detalhe curioso: “Poxa” já teve mais de 50 gravações e até Elton John arriscou cantá-la em ritmo de bossa nova num de seus DVD’s.“Quem passa vai parar”, bom samba sincopado, traz para Zeca a companhia de Alcione, a maranhense mais carioca do pedaço, patrimônio do Rio de Janeiro e do Brasil. Os autores: Efson (de quem Zeca gravou “Hoje é dia de festa” e “Cabocla Jurema”) que se revelou no Cacique de Ramos; Marquinhos PQD (coautor de “Deixa Clarear” e “Luz do Repente”, entre outras), e Carlito Cavalcanti (também do Cacique e parceiro consagrado de Jovelina Pérola Negra). Você para, ouve e quase pode ver o samba rolando numa mesa de bar, regado a muitas cervas. É um típico retrato de uma tarde qualquer num bar de subúrbio carioca, nascedouro de sambas memoráveis. Como já é de seu feitio, Zeca não desperdiça chances e a cada show, a cada disco novo, junta e festeja os amigos e parceiros de ontem e de sempre. Assim marcam presença o grande Almir Guineto (a quem Zeca chama de professor, mais do que o parceiro de tantas viagens em tempo bom e em tempo de “lama nas ruas”), Adalto Magalha (parceiro de Almir em meia centena de sambas inesquecíveis) e Fred Camacho (que é o homem do banjo no Toque de Prima e também parceiro do Almir) - deles Zeca já gravou “Pra ninguém mais chorar”. Agora eles compuseram “Pela Casa Inteira”, dor de cotovelo que só se encara com coragem e samba desse tipo.
Palavras de Chico Pinheiro